Há cerca de 4 décadas, o HPV foi descrito como um potencial fator de risco para o carcinoma epidermóide (CEC) de cabeça e pescoço. Desde então, a sua participação no desenvolvimento de tumores, especialmente CECs de orofaringe, tem sido cada vez maior. Nos EUA, Canadá e Ocidente Europeu, o HPV já é a principal causa dos cânceres de orofaringe.
No nosso meio, representa cerca de 25 a 30% dos casos. Pacientes com identificação dessa associação costumam ter melhor prognóstico, independente da estratégia de tratamento empregada. Além disso, há diferenças de perfil do paciente quanto ao status de HPV. Indivíduos HPV+ classicamente são mais jovens, com poucas comorbidades e maior número de parceiros sexuais ao longo da vida. Aparentemente, algumas características consideradas de maior agressividade e que exigem tratamentos também mais agressivos em CEC de orofaringe são controversas nesse perfil de pacientes.
Por todos esses fatos, diversos estudos com intuito de reduzir a toxicidade do tratamento oncológico nesse grupo têm sido realizados. A primeira tentativa de trocar o esquema habitual de quimioterapia com cisplatina por cetuximabe, uma droga que prometia trazer menos toxicidade, foi falha. A toxicidade foi semelhante e a resposta com a cisplatina foi melhor.
Com exceção dos tumores iniciais de orofaringe, com anatomia favorável, o tratamento cirúrgico dos demais casos exige abordagens com incisões na face, abertura do lábio e/ou da mandíbula, com morbidade elevada associada. Por essa razão e pela equivalência de resultados oncológicos, o tratamento conservador com radioterapia associado ou não a quimioterapia tem sido o preferencial em estágios intermediários e avançados.
Com o surgimento da cirurgia robótica e das técnicas de ressecção através da cavidade oral uma nova janela se abriu e possibilitou a reabertura da discussão em cima da realização de cirurgias com menor morbidade seguidas ou não de radioterapia em doses menores, especialmente em pacientes jovens. Embora os resultados ainda sejam iniciais, há uma tendência de desfechos mais favoráveis no grupo operado por cirurgia robótica.
Além disso, recentemente foram publicados os dados preliminares de comparação entre doses mais baixas de radioterapia com as doses usuais, em pacientes com CEC de orofaringe HPV+ em estágios intermediários. Ambas as doses tiveram a mesma eficácia, mostrando que talvez doses menores de radioterapia possam ser usadas nesse grupo sem prejuízo aos pacientes.
Apesar de os resultados apontarem para uma provável redução nas doses, esquemas e toxicidade dos tratamentos nos pacientes com CEC de orofaringe associado ao HPV, atualmente ainda carecemos de confirmações para mudar o esquema atual de manejo. Deve-se lembrar que mudanças de tratamento oncológico sempre têm risco de impacto negativo e, embora se queira melhorar a qualidade de vida dos pacientes, isso não pode ser acompanhado de piora na expectativa de cura. Fique por dentro das novidades como nós. Acompanhe mais informações também pelo Instagram: @clinicakopfhals
